Baden Powell de Aquino (1937 / 2000) tocava a versão moderna da lira de Apolo mas era um discípulo de Dionísio. Levou, também, uma vida de errância aristotélica (talvez por influência de nome próprio e apelido) mas a evocação direta da antiguidade clássica fê-la quando, algo cripticamente, revelou ter baseado a escrita dos afro-sambas em modos gregos. Mas foi precisamente enquanto recriador de efabulações folcloristas que Powell entrou na história do seu país. Parte deste cancioneiro ganharia configuração só em 1966, quando a Forma lançou “Os afro-sambas de Baden e Vinicius”, mas Powell estreou neste “À vontade” (Elenco, 1963) “Consolação”, “O astronauta”, “Candomblé” e “Berimbau”. Por isso, numa nítida articulação em que cabe ainda Bach filtrado por Villa-Lobos filtrado por um mulato, trata-se já aqui daquela extática visão da Bahia que superou a própria realidade e da qual Powell – vivendo em Paris ou, parece anedota, em Baden-Baden – até ao fim dos seus dias jamais conseguiu escapar.
disco “À vontade”, de Baden Powell
Soul Jazz / Multidisc, 1963 / reed. 2012
[a partir dos 2 anos]
João Santos