No ano passado, e aproveitando a deixa da pausa ainda sem fim anunciado dos monumentais The Fiery Furnaces, Eleanor Friedberger deu umas tréguas ao rock fractal e esclarecidamente esquizoide do duo de “Blueberry boat”, aventurando-se na composição com “Last summer”, uma emotiva viagem poética e sonora, temperadamente nostálgica e arrojada. Friedberger revisita o passado através de fotografias e narrativas que recria, recupera reminiscências de Nova Iorque e Los Angeles e evoca memórias do seu imaginário pessoal e musical, sem cair, porém, em revivalismos ocos. A reverberação das linhas de baixo, a guitarra acústica de Eleanor, mas sobretudo os teclados (porque os “descobriu” subitamente no “verão passado”, como uma epifania, e foi a partir deles que compôs todo o álbum), dão o mote para este solilóquio camuflado pelos lugares da adolescência, que se passeia entre Seventh Ray, na Califórnia, “Owl’s Head Park”, em Nova Iorque, ou os espaços das sensações e impressões convocadas pelas “Scenes from Bensonhurst”. Com cheiro a final de verão, é este universo, que se guarda e reordena no coração, que Eleanor Friedberger nos fará reconhecer hoje na Zé dos Bois, em Lisboa, e amanhã no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães. Concertos imperdíveis para quem ainda acredita que a morte da pop pode efetivamente demorar mais uns dias a chegar…
14 + 15 maio, 10 pm
concertos de Eleanor Friedberger
Galeria Zé dos Bois, Lisboa [dia 14]
Centro Cultural Vila Flor, Guimarães [dia 15]
[a partir dos 12 anos]