“Desenhar é colher migalhas de realidade para mordiscar, cheirar, bisbilhotar, roubar e coser depois numa folha de papel. Ou de árvore, como preferirmos. E, claro: desenhar é jogar.” São exatamente mordiscadelas, pedacinhos de realidade pessoal e autobiográfica despretensiosa, que encontramos nesta sequência de cenas selecionadas que refletem, de forma condensada e irónica, a complexidade icónica daquele que pode ser universalmente apelidado como “o sentimento”. Começando com o próprio jogo de palavras do título (“Amordiscos”, uma edição original de 2008), a jovem ilustradora freelancer espanhola Moni Pérez consegue abandonar o seu registo habitual de trabalho e surpreender o leitor com este livrinho estilo cartoon, sem palavras, com traços simples a negro e pinceladas de aguarela vermelha. Pejado de referências cinematográficas (homenagens a clássicos como “Serenata à chuva”, “E.T. – O extraterrestre” ou “Beleza americana”), recorrendo à colagem de episódios quotidianos e/ou ilustrando expressões, exemplos ou advertências, com os quais os leitores rapidamente se identificam, ora pelo seu simbolismo ora pela sua literalidade e expressividade, “Amordiscadelas” funciona sobretudo como um exemplo do que pode ser o humor sobre o amor, perspetivado no feminino.
livro “Amordiscadelas”, Moni Pérez
Faktoria K de Livros / Kalandraka, 2013
[a partir dos 12 anos]
Paula Pina