O céu está pintado de um azul acinzentado, que escurece a brancura dos rochedos e dos arvoredos mais resistentes a perder a folhagem. O outono vai já tardio, e serenamente anuncia um inverno inevitável. É assim que Benjamin Chaud, autor e ilustrador francês, nos recebe neste seu primeiro álbum publicado em Portugal (com chancela da Orfeu Mini), que chega às livrarias nestes dias de todos os (re)começos. Mas o quadro de uma floresta imensa que se prepara para adormecer é apenas a surpresa iniciática de um encanto que se replica em cada página deste livro e em cada espaço da sua extensão. Benjamin Chaud traça um fio narrativo e visual que percorremos por entre cenários e figuras em mudança, onde nos perdemos e encontramos em situações paralelas e sugestões alheias à história que abaixo se escreve. Inquietamo-nos com o Pequeno Urso em fuga, insistindo em perseguir uma abelha zumbidora, mas sem quaisquer problemas de consciência suspendemos a nossa curiosidade para atentar nos deliciosos detalhes com que Chaud cuida e preenche o seu desenho. Na folha de papel, essa mesma em que vemos o Papá Urso arriscar-se na cidade e aperaltar-se para entrar na ópera, coexiste um incontável número de animais do bosque, personagens citadinas e petites histoires labirínticas de uma riqueza gráfica assinalável. Depois da agitação, o sossego, usufruído ao sabor de um bom manjar de mel, sob o céu estrelado de Paris.
livro “A cantiga do urso”, de Benjamin Chaud
Orfeu Mini / Orfeu Negro, 2012
[a partir dos 3 anos]
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