Tag Archives: a partir dos 10 anos

Livros para pré-adolescentes e adolescentes

brian selznick a invencao de hugo cabret 2

 

Difícil e inglória é, muitas vezes, a tarefa de encontrar livros para pré-adolescentes e adolescentes que desejam outras leituras que lhes permitam escapar à voragem da literatura de aventuras (redutora), da literatura fantástica (excessiva), da literatura policial ou de mistério (de cabeceira), da literatura de costumes (desapontante), da literatura de auto-ajuda-e-conhecimento (moralizante e antiquada), da literatura de lista escolar obrigatória (imposta). Há ainda muitos jovens que passaram pela literatura de sucesso comercial (de Continue reading

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“Bestas do sul selvagem”, de Benh Zeitlin

capa benh zeitlin bestas do sul selvagem

 

No limite, talvez possamos definir o filme de Benh Zeitlin como um retrato muito concreto e sofrido do sul dos Estados Unidos que se vai transfigurando numa parábola universal sobre a arte da Continue reading

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Filed under Cinema

Presente perfeito, pelo Dia Mundial da Criança 2013 [a partir dos 9 anos]

andre da loba pensamientras pormenor

 

Procuramos prodigiosos presentes propostos prá prole privilegiada – primorosas princesas ou principiantes prestidigitadores -, premissa prioritariamente projetada, protegida e promovida pelos prezados progenitores percetores Continue reading

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“Bestas do sul selvagem”, de Benh Zeitlin

benh zeitlin beasts of the southern wild

 

A história da maravilhosa Hushpuppy, percorrendo o labirinto geográfico e afetivo da pobreza no sul dos Estados Unidos, consegue transformar a tradicional (e, hoje em dia, muito rara) película de 16 mm em passaporte para um universo tecido do Continue reading

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Presente perfeito, pelo Natal 2012 [a partir dos 10 anos]

capa homero odisseia pormenor

 

Como já se tornou um hábito, não poderíamos chegar ao Natal sem dizer “presente!” – por isso, aqui estamos com as nossas escolhas de presentes para distintos gostos e feitios, unidos pelas doses inesquecíveis de magia e beleza que acrescentarão ao sonho das crias que mais amamos. Continue reading

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“Cantigas d’amigos”, de Amália Rodrigues, Natália Correia e Ary dos Santos

 

Considerado o mais raro exemplar da discografia de Amália, este álbum é um belíssimo compêndio de guitarra, viola e arte trovadoresca que reúne cantigas de amigo, escárnio e maldizer, e pastorelas de diversas proveniências. Gravado num dos míticos serões na casa da fadista na rua de São Bento e registado numa peça de Continue reading

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Presente perfeito, pelo Dia Mundial da Criança 2012 [a partir dos 9 anos]

 

Entre uma ansiedade manifesta, que faz o coração transbordar de tamanha curiosidade, e um silêncio tímido, a expetativa por um Dia da Criança perfeito é comum. Por isso mesmo, e para que com as nossas crias possamos fazer perdurar esta celebração da vida que elas nos acrescentam, aqui se elencam as nossas escolhas de presentes para satisfazer a Continue reading

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“Antologia poética”, de Cesário Verde e José Manuel Saraiva

 

São verdadeiramente edições apaixonadas. E  apaixonam quem as toca, vê, cheira e lê. Estamos a falar das antologias poéticas que compõem a coleção Treze Luas, da Faktoria K de Livros, cuidada transferência do ideal ibérico multicultural da espanhola Kalandraka Editora. Começando com Fernando Pessoa (volume ilustrado por Pedro Proença), em novembro de 2009, continuando com Bocage (com ilustrações de André da Loba) e Florbela Espanca (acompanhada pelas imagens de Joana Rêgo) em dezembro de 2010, eis-nos agora, dois anos depois do início, perante a recente Continue reading

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A pedagogia eletrónica de Morton Subotnick ao vivo em Lisboa e em projeto online interativo

 

“Aprender criando” poderia ser a máxima de Morton Subotnick (nascido em 1933), um dos mais inovadores compositores e dedicados pedagogos nas áreas da música eletrónica e multimedia, que nos visita amanhã (sábado, 22 de outubro) para um concerto na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa. Nos idos anos 60 do século XX, foi um dos pioneiros no uso do sintetizador analógico modular construído por Donald Buchla (e para o desenvolvimento do qual Subotnick também contribuiu decisivamente). Os arrojados efeitos sonoros experimentais que criou em 1967, com a obra “Silver apples of the moon”, que agora vem apresentar numa versão revista, fizeram do seu nome uma referência histórica transdisciplinar. Hoje ainda, a sofisticação tímbrica e rítmica, as suas texturas contrapontísticas complexas, as continuidades sonoras baléticas e coreografáveis, a sua musicalidade expressiva e teatral, continuam vivas, misteriosas e sedutoras. Som, palavra, gesto, movimento formam indestrutíveis parcerias, contextualizadas agora num universo multimedia.

 

 

Mas Morton Subotnick é também um pedagogo atento e ousado, responsável pela criação de novas estratégias e ferramentas criativas para a educação musical infantil. O seu papel enquanto criador do California Institute Of The Arts ou os seus incansáveis contributos para a reformulação de empoeirados curricula em educação artística credenciam-no suficientemente para que decidamos espreitar, sem mais delongas, o seu projeto online Creating Music. Para além de anunciar seis CD-ROMs, o site fornece um ambiente no qual as crianças podem fazer as suas experiências musicais criativas, jogando, compondo as suas próprias peças e ouvindo-as em tempo real, mesmo sem saberem ainda decifrar a notação musical convencional. Editar, alterar, inventar, avançar, recuar, duplicar, escolher, ouvir, tocar, compor, decifrar, comparar, são verbos que se concretizam em experiências sonoras diversas, como puzzles e jogos. Mas o site não se esgota na dimensão lúdica, não condescende nem banaliza: os jogos oferecem exemplos claros que ajudam a entender conceitos musicais difíceis, como timbre, altura, ritmo, tempo, melodia, dinâmica, estrutura, escala, notação. Para educadores e professores usarem de vez em quando na sala de aula. Para pais e filhos brincarem juntos.

 

22 outubro, 11 pm
Morton Subotnick
Zé dos Bois, Lisboa
[a partir dos 10 anos]

 

Paula Pina

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“Webcedário”, de Abc Dário

Eis um projeto de escrita, visual, gráfica, humorística, que teve a sua génese na blogosfera e que surge agora editado em livro pela Bizâncio. Nestes divertidos mini-cartoons a preto e branco (e vermelho), as letras, os números, os sinais gráficos e outros carateres ganham personalidade, novo corpo e voz. São personagens atuantes e críticas, que nos ensinam a olhar, a redescobrir as possibilidades que jazem, escondidas, por trás dos símbolos e sinais de que vivemos cercados, que para nós já não têm presença e que usamos sem pensar. São diálogos, sketches, observações, críticas, perguntas, ingenuidades e maledicências, misturando a sátira política e social, a história e a cultura, oferecendo-se deliciosos didatismos linguísticos. Do velho se faz novo em combinações inusitadas; formatos conhecidos reconfiguram-se em contextos originais; o quotidiano enfado ora se adoça, ora se agudiza, em pequenos detalhes surpreendentes, cómicos e irónicos, desde os números das páginas (que não são “apenas” paginação), até ao código de barras final, passando pela ilustração de expressões idiomáticas. Um exercício de criatividade a partir de fontes potencialmente inesgotáveis.

Alexandre O’Neill, nas suas “Poesias completas, 1951-1981”, havia já dado vida aos sinais gráficos, por exemplo, transcrevendo-lhes os pensamentos e a voz na primeira pessoa:

 

^

Se me puseres
Serás a mais bonita das mulheres.

 

ou

 

^

Dou guarida e afecto
A vogal que procure um tecto.

 

Em aberto, em suspenso
Fica tudo o que digo.
E também o que faço é reticente…

 

(   )

Quem nos dera bem juntos
Sem grandes apartes metidos entre nós!

 

.

Depois de mim: maiúscula
Ou o espaço em branco
Contra o qual defendo os textos.

 

São muitos os autores, sobretudo de literatura para crianças, que, armados de bem intencionados propósitos, tentaram já explorar estas dimensões, com resultados oscilando, geralmente, entre o sofrível e o desastroso, caindo muitas vezes no facilitismo dos versinhos insípidos, ou das historietas didáticas sem fulgor. Muitos professores, igualmente dedicados, mas bastante menos imaginativos e pressionados por angústias pedagógicas, socorrem-se de técnicas de escrita criativa, mais por obrigação e receituário salvífico, do que por verdadeiro prazer e convicção.

Há obras inspiradas pelas formas das letras, pelos sons, pelos grafismos, pela espacialização, de cunho marcadamente surrealista, por exemplo, mas poucos escritores e ilustradores de literatura infantil e juvenil ousam percorrer os novos caminhos que a poética visual contemporânea e artes plásticas e digitais já traçaram.

Mário Castrim em “Estas são as letras”:

 

Q

Dizem qualquer coisa e eu pergunto:
– Quê?
Pergunto sempre:
– Quê?
Não sei porquê
O meu amigo V
Zanga-se e diz:
– És surdo ou quê?
E eu respondo sinceramente:
– Sou quê.

 

José Carlos de Vasconcelos em “De águia a zebra”:

 

X

Encontraram-se dois traços
Numa larga estrada de vento.
Amor súbito, beijos e abraços
– um lindo cruzamento.

 

livro “Webcedário”, de Abc Dário
Bizâncio, 2011
[a partir dos 10 anos]

 
Paula Pina

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Marcelo Camelo em trânsito entre o Sudoeste e Lisboa

Cumprido o histórico festim que hoje à noite conduz ao palco maior do festival os distintos cambiantes r&b de Janelle Monáe, Raphael Saadiq e Snoop Dogg, e antecedendo em poucas horas uma sua extensão chamada Kanye West, o Sudoeste acolherá às 7.20 da tarde desta 6ª feira, dia 5 de agosto, a primeira de duas apresentações portuguesas do recente segundo álbum “solitário” do compositor brasileiro Marcelo Camelo – sendo a outra promessa para depois de amanhã, dia 6, na sala lisboeta TMN Ao Vivo.

“Toque dela” é um longa duração que sublinha e fortalece o modelo criativo do igualmente louvável “Sou nós” (Zé Pereira, 2008), e a confiante consolidação de uma assinatura – no domínio das composicões, dos arranjos, das interpretações, dos textos e dos subtextos que estes promovem, etc. – que o bom senso aconselha a manter em audição regular. E particularmente atenta… As leituras formais são imensas e desmultiplicam-se exponencialmente até a um lugar sonoro ainda por cartografar. Evitemos chamar-lhe rock, mesmo que no seu apaixonado âmago seja impossível não reconhecer o carinho que esta música devota aos arranjos educados no mais elegante pós-rock de Chicago – em grande medida viabilizados pelo auxílio luxuoso (ainda que, neste contexto, escasso em liberdade…) do guru Rob Mazurek e dos seus mais declarados embaixadores brasileiros, os Hurtmold. Evitemos igualmente ignorar a sua genealogia inequívoca: a modernidade intemporal da bossa nova, a erudição contemplativa do jazz, a disponível sabedoria da música contemporânea, a minúcia especulativa da eletrónica, etc… Trabalhando silêncios e respirações como raros estetas na pop atual, Marcelo Camelo é paradigmático no modo como concebe arranjos que parecem ter tempo e disponibilidade para tantas ideias e acontecimentos, inúmeras vezes em simultâneo: “vozes” distintas que dialogando se complementam e esclarecem, gerando fantasias inéditas a cada nova oportunidade dialética.

Apesar da crescente abstração e simbolismo dos poemas e das narrativas sónicas que os amparam, há toda uma respiração realista dial, subtraída às vivências do autor, hospedada em cada uma destas canções. Apologia do princípio da existência e da lógica ficcional que cria para cada um de nós, “Toque dela” é um documento que regista com saudável energia o momento presente do seu criador e, em certa perspetiva, da sociedade que nos assiste, onde quase tudo é impuro, imperfeito, desleixado, mas – honra lhe seja feita – razoavelmente genuíno. E rimando conceptualmente com as marcantes ilustrações recuperadas de obras de Biel Carpenter para o livrinho que acompanha o disco…

Haja fé para um Marcelo Camelo que, em recente entrevista ao Expresso (disponível na íntegra no blogue de João Santos, seu autor), resumiu a sua feliz vulnerabilidade digna de uma criança de 10 anos com um “Eu só tenho intuição. É a minha maior aliada, a minha bússola”.

Fechando o curto circuito musical que elegemos para as nossas crias e para nós nesta edição do Sudoeste, Kanye West deverá recolher o consenso de quem lhe testemunhar este regresso a Portugal (tanta música excecional depois da inesquecível estreia de Oeiras), previsto para as 11.40 da noite de amanhã, dia 5. Cada vez mais humano na sua ilusão divina, o produtor colherá na Zambujeira do Mar mais alguns frutos de um período assinalável da sua trajetória: na feliz ressaca de um ótimo álbum (“My beautiful dark twisted fantasy”, Roc-A-Fella, 2010) que sofreu de um hype no extremo oposto do anterior (e não menos notável) “808’s & heartbreaks” (Roc-A-Fella, 2008), e nos escassos dias que antecedem a publicação de “Watch the throne”, o revigorante álbum que o une a Jay-Z (disponível digitalmente no próximo dia 12 de agosto). Três dimensões paralelas de um dos raros estetas de que o universo pop de grande escala se pode verdadeiramente orgulhar. Pode ser que os públicos e as expetativas se encontrem no litoral alentejano…

 

5 agosto
Marcelo Camelo, Kanye West, etc.
Festival Sudoeste TMN ’11
Herdade da Casa Branca, Zambujeira do Mar
[a partir dos 12 anos]

 
6 agosto, 10 pm
Marcelo Camelo
TMN ao vivo, Lisboa
[a partir dos 12 anos]

 

disco “Toque dela”, de Marcelo Camelo
Zé Pereira / Universal, 2011
[a partir dos 10 anos]

 

 
Moreno Fieschi

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