Aquilo que distingue os filmes, sobretudo os muito promovidos lançamentos de verão, não é a pletora dos chamados efeitos especiais (que aqui são abundantes, podem crer, e muitíssimo sofisticados). É antes o amor por esses dois vetores mágicos que dão corpo ao cinema: o espaço e o tempo. Por um lado, através da saga da construção do caminho de ferro, “O Mascarilha” é um filme sobre o valor simbólico do espaço; por outro lado, na sua teia de ziguezagues entre a crueza dos factos e a sedução da lenda, há nele uma desencantada visão do tempo e dos seus poderes mitológicos. Nesta perspetiva, os excelentes Armie Hammer e Johnny Depp (Mascarilha e Tonto, respetivamente) surgem como figuras assombradas da história do Oeste e, mais do que isso, do próprio western – há neles tanto de carnal como de fantasmático, são personagens vivas e lendas reinventadas, em última instância celebrando o prazer intrínseco do espetáculo cinematográfico. Imagino as consciências mais inquietas a perguntar:… mas então, “O Mascarilha” não é uma comédia? Claro que sim. Desde quando o impulso cómico é incompatível com o fulgor da inteligência?
João Lopes
8 agosto [estreia nacional]
filme “O Mascarilha” [“The Lone Ranger”], de Gore Verbinski, com Johnny Depp, Armie Hammer,…
Zon, 2013
[a partir dos 12 anos]