A Edicare continua a presentear os leitores portugueses com a publicação da obra do genial Hervé Tullet, e desta vez, garantidamente, depois de conhecermos o Blop e o seu “mundo” maravilhoso, nunca mais voltaremos a olhar “o nosso mundo” da mesma maneira. Enquanto aguardamos os próximos volumes, apetece anunciar, com megafone (um pouco como faz o próprio Hervé Tullet enquanto dirige workshops com centenas de crianças que pintam gigantescos murais): “Bem vindos ao mundo dos Blops! Conheçam o mundo com os Blops! Conheçam a arte com os Blops! Contem com os Blops! Pintem com os Blops! Façam um safari com os Blops! Blopem com os vossos amigos! Façam “pop” com o Blop! Descubram outros Blops! Toca a blopar!”
“Olá, sou o Blop!” (originalmente datado de 2005) começa com uma simples forma traçada a negro, um misto de flor e borboleta, entre o borrão e a forma humana, que se apresenta – eis o tema – e que se estende e se expande em variações de traços, cores, texturas, convertendo-se então a obra num fascinante exercício de estilo e num espetacular desfile de ideias e surpresas a explorar: começando no próprio formato bizarro do livro (um polígono irregular), técnicas e materiais (um espelho, acetatos coloridos, formas pop-out para destacar, p. ex.), este é um livro-oficina, um livro-laboratório, um livro em devir. Veja-se como as interrogações nas últimas páginas do livro nos posicionam afinal, bem vistas as coisas, no princípio de tudo.
Há um Blop com varicela, um Blop invisível, dois Blops que se abraçam, um Blop riscado a esferográfica, um Blop partido, há Blops animais e há famílias Blop, Blops sós ou acompanhados, para contar ou para pintar, na cidade, no campo e no mar, na sala, no recreio ou no museu. Fremente, pulsante de propostas-jogo para pais, educadores, professores, crianças, bebés, este emblemático “Olá, sou o Blop!” vem em quatro opções de cor. Mas vem igualmente mostrar-nos que temos em nós a capacidade de escolha e o dom da metamorfose. Consola-nos ao recordar que “o que é” é igualmente o que “pode ser”.
Conhecido nos Estados Unidos como “The prince of pre-school books”, eis um autor que surpreende tanto quanto se surpreende, que diverte tanto quanto se diverte. Revolucionário e clássico, camaleónico e indispensável, Tullet cria livros que levam muito mais além o conceito de leitura, que ensinam a pensar criativamente, autonomamente e coletivamente, sempre com inteligência e humor – inventam-se e descobrem-se, atualizam-se, convidam e exploram, desconstroem-se e jogam universos, histórias. São obras que exigem a presença ativa do leitor, que dele necessitam para “ser” – obras em estado mágico de inesgotável incompletude, verdadeiras chaves que destrancam a criatividade…
Por vezes, o nosso mundo é tão preto e branco, que se torna difícil ver os Blops. Mas eles estão lá…
Para Tullet, a melhor ideia é sempre aquela mais simples, aquela que permite que todos, crianças e adultos, brinquem juntos. Inspirado por Calder e Miró, enfeitiçado pelo livro que mudou tudo – “Pequeno Azul e Pequeno Amarelo” de Leo Lionni, Hervé Tullet é caleidoscopicamente sensorial, musical, na sua busca de novo vocabulário gráfico. Na verdade, acredita que pode mudar o mundo, espalhando e oferecendo as suas ideias, porque quanto mais dá, mais recebe. A sua ideia de elegância? Nunca se esquecer de dizer “obrigado”. “Obrigada”, Hervé!
Paula Pina
livro “Olá, sou o Blop!”, de Hervé Tullet
Edicare, 2013
[a partir dos 2 anos]
Mais uma excelente crítica da não menos excelente Paula Pina :)
Esta semana vou apresentar esta história :)
Besitos,
Vanda