“Se a História fosse ensinada em forma de histórias, nunca seria esquecida”. São palavras de Rudyard Kipling, prémio Nobel da Literatura em 1907, nascido a 30 de dezembro de 1865, em Bombaim, Índia. Apesar do sucesso obtido em vida, a obra de Kipling não está isenta de polémica, geralmente em torno de acusações de conservadorismo político e apologia do imperialismo. Na verdade, para além da convencionalmente pouco abonatória etiqueta de literatura infantojuvenil, parte das dificuldades com a obra de Kipling podem ainda dever-se à patente menorização daquelas que são, talvez, as grandes questões da existência e identidade humanas que na sua obra surgem a cada passo, derrogando as fronteiras entre adulto e criança, entre ser humano e animal, entre nativo e colonizador, e, em última análise, entre realidade e ficção.
E é bom que a memória de personagens como Toomai, Mowgli, Shere Khan, Kaa e Baloo não fique retida apenas em versão da Walt Disney. “O livro da selva” e “O segundo livro da selva” (o primeiro volume publicado em 1894 e o segundo em 1895) é, sem dúvida, a obra que tornou Kipling famoso. Em Portugal, podemos ler a versão das Edições Nelson de Matos, ainda que sem a beleza das ilustrações originais (de John Lockwood Kipling, pai do autor), numa nova e convincente tradução de Marcelo G. Oliveira. A série de narrativas alegóricas que Rudyard Kipling concebeu recorda-nos qualidades como a nobreza e a lealdade, a entreajuda e a coragem, a alegria e a fé, a integridade e a tradição, o respeito pela natureza e a honra, a amizade e a persistência; recordam-nos o que os animais sempre nos ensinaram – a humanidade.
“O livro da selva” e “O segundo livro da selva”, de Rudyard Kipling
ambos Edições Nelson de Matos, 2011
[a partir dos 9 anos]
Paula Pina