Uma menina e um menino encontram-se, tornam-se amigos e compartilham aventuras. Essa é uma história relativamente comum, mas que ganha novos contornos e encantos pelas mãos de Tatiana Salem Levy, tendo como pano de fundo as belezas da Amazónia. No livro “Curupira Pirapora”, a menina é uma mameluca e o menino um curupira. Na cultura brasileira, mameluco é a pessoa com ascendência branca e indígena. Já o curupira é uma das figuras mais conhecidas do folclore do Brasil: um rapaz baixinho, com cabelos cor de fogo, com os pés virados para trás e que gosta de enganar caçadores e viajantes das matas. Diz a lenda brasileira que ele é o protetor da fauna e da flora, lutando contra aqueles que as querem destruir. A palavra “curupira” vem da língua indígena tupi-guarani. “Curu” vem de “curumim” (que significa “rapaz”) e “pira” quer dizer “corpo”. Ou seja, “curupira” é um “corpo de rapaz”. Mas de menino ele tem só o corpo. Endiabrado no sentido etimológico do termo, gosta de fumo, cachaça e confusão. E gosta de crianças, como a maluca mameluca Janaína, que se perdeu na mata e com o seu jeitinho conquistou o curupira Pirapora e acabou com a sua solidão. Ele ensinou-lhe muitas coisas, e ela ensinou outras tantas. As páginas de “Curupira Pirapora” são recheadas de lendas, diversão e revelações desses típicos personagens do Brasil. As minimalistas e memoráveis ilustrações de Vera Tavares ajudam a história a sair do papel e entrar na mente de pequenos e de adultos, que através da sua assertividade vetorial podem viajar pelos sabores simbólicos da floresta amazónica. As cores e contornos casam na perfeição com as linhas escritas por Tatiana Salem Levy, a novelista e tradutora brasileira nascida em Lisboa que, com a benção da louvável editora Tinta da China, assim traz um pouco da sabedoria popular do Brasil para o público infantojuvenil português.
livro “Curupira Pirapora”, de Tatiana Salem Levy [texto] e Vera Tavares [ilustrações]
Tinta da China, 2012
[a partir dos 6 anos]