Bill Bryson é um daqueles autores movidos pela “irreprimível vontade de partilhar informações extraordinárias”. Apelativo para breves exigências convulsas de leitores adolescentes, mágico, interessante e divertido ainda para o leitor adulto. Não sendo um cientista, Bryson encanta-nos porque consegue ser profundo e densamente sustentado, coerente, sem cedências, escrevendo com a paixão do viajante, cativando como um contador de histórias, fazendo rir com o deleite de quem sabe escolher, cuidadosa e quase cinematograficamente, aquelas maravilhosas pequenas histórias dentro das histórias da história da ciência, que nunca constam dos manuais escolares. De facto, um dos grandes problemas dos manuais é que se limitam a elencar nomes e acontecimentos, a exibir dados ou a explanar descobertas, sem que deles se saiba o “como?” e o “porquê?”. Como sabemos hoje o que sabemos? E como o souberam eles?
O primeiro grande feito de Bill Bryson talvez seja realmente permitir-nos descortinar sequências de eventos que se alinham e encaixam em perguntas e pesquisas, erros e acasos, amizades e rivalidades, disparates e absurdos, proezas e sorte, genialidades e persistências, protagonizadas por tanta gente, conhecida ou esquecida, em tantas partes do mundo. Prova, afinal, que todos estamos ligados, mesmo que muitos não o saibam ou não o queiram admitir, mesmo que pura e simplesmente não queiram saber. Numa das 746 páginas do recentemente publicado formato de bolso desta deliciosa “Breve história de quase tudo” (que o é sem o ser, breve e história), Bryson escreve: “Contei tudo isto só para explicar que, se tivéssemos de conceber um organismo destinado a salvaguardar a vida no nosso solitário cosmos, a vigiar a sua evolução e a manter um registo dos sítios por onde passou, o ser humano não seria o mais indicado para essa tarefa. Mas aí chegamos a um ponto muito importante: fomos escolhidos, pelo destino, ou pela providência, ou o que lhe quisermos chamar. Tanto quanto sabemos, somos o melhor que há. Talvez sejamos mesmo a única coisa que há. É irritante pensar que talvez sejamos a realização suprema do universo, e ao mesmo tempo o seu pior pesadelo.”
Até ao próximo dia 31 de março, alunos dos cinco aos 18 anos, individualmente ou em grupo, de escolas básicas e secundárias de todo o mundo podem inscrever-se em http://rsc.li/bill-bryson se quiserem responder à pergunta: “Como é que a ciência nos mantem saudáveis?” O prémio monetário é significativo e procuram-se respostas criativas. Não é preciso ser-se especialista e aceita-se qualquer formato, desde puzzles a podcasts. O objeto da iniciativa RSC Bill Bryson é contribuir para reconhecer e encorajar a divulgação de excelência sobre ciência nas escolas.
“Temos uma sorte enorme em estar aqui – e quando digo ‘temos’, estou a referir-me a todo o ser vivo. Ao que parece, conseguir ter qualquer tipo de vida neste planeta é uma grande proeza. Claro que, como seres humanos, temos sorte a dobrar: não só gozamos o privilégio de existir como ainda temos a extraordinária capacidade de apreciar a vida e até, de muitas maneiras diferentes, de a melhorar. É um talento de que só muito recentemente começámos a ter consciência”. Bryson está a fazer o seu papel. Estaremos nós a fazer o nosso?
livro “Breve história de quase tudo”, de Bill Bryson
11 17 / Bertrand, 2012
[a partir dos 13 anos]
Paula Pina