Duas criaturas bizarras, marginais e solitárias – um rapaz e uma “coisa perdida” – cruzam-se num cenário aridamente futurista e industrializado. Enigmática, sem nome, sem proprietário, de origens e referências desconhecidas, sobre esta “coisa perdida” pouco ou nada se sabe. E, efetivamente, depois de lermos este livro, nada ficamos a saber. Shaun Tan, autor e ilustrador australiano (cuja obra já conhecíamos em Portugal de títulos fundamentais como “Emigrantes” ou “Contos dos subúrbios”), ao invés de traçar um clássico caminho de retorno para “a coisa perdida”, decide apresentar-nos uma original e melancólica narrativa sobre a estranheza, a diferença e a amizade. Num deserto em que o progresso científico e tecnológico se instalou de forma flagrante, restam incólumes os seres de toque surrealista, quase daliniano, que Tan explora com acurado detalhe visual, contrastando com as ambiências cromáticas secas e estéreis que aplica à restante paisagística. Este é um álbum para se apreciar de capa a capa, e que se distingue sumamente pelo grafismo retro com que o seu autor baliza, em pano de fundo, os diferentes quadros do conto. “The lost thing”, publicado originalmente em 1999, inspirou Shaun Tan a realizar uma curta metragem homónima, que recebeu, em 2011, o Oscar de Melhor Curta Metragem de Animação.
livro “A coisa perdida”, de Shaun Tan
Kalandraka, 2012
[a partir dos 8 anos]