Não sabemos o que teria João de Barros pensado do novo acordo ortográfico, ele que era defensor de uma ligação estreita entre Portugal e Brasil, ele que foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, ele que dirigiu a revista Atlântida, na qual colaboraram alguns dos mais eminentes escritores lusófonos do seu tempo. Já no final da vida, empreendeu a difícil e “delicadíssima tarefa”, quase “sacrílega”, mas “urgente”, “patriótica”, de adaptar à prosa obras como a “Odisseia”, de Homero, e “Os lusíadas”, de Luís de Camões. João de Barros, poeta, escritor, político, pedagogo, nasceu em fevereiro de 1881, sendo pois ajustada e necessária homenagem a recente edição, com a chancela da Marcador Editora, da histórica adaptação daquele que é considerado um dos textos canónicos da cultura portuguesa, já aqui evocada nos primeiros dias do Cria Cria.
“Como antídoto e remédio contra a vergonha e a baixeza de tal situação [à época, o domínio espanhol], ‘Os lusíadas’ andaram desde logo nas mãos de todos os bons portugueses. Enquanto Portugal não reconquistou a independência, foram leitura fiel daqueles que precisavam de fortalecer a sua confiança na Pátria e no Povo oprimidos. Hoje ainda – hoje e sempre – o poema de Luís de Camões ensina a estrangeiros e a nacionais a grandeza e a eternidade do destino de Portugal”, escreveu João de Barros. Que seja agora, pelo menos, a adaptação em prosa feita por João de Barros a cumprir idêntica missão.
“‘Os lusíadas’ de Luís Vaz de Camões contados às crianças e lembrados ao povo”, de João de Barros [adaptação em prosa] e André Letria [ilustrações]
Marcador, 2012
[a partir dos 10 anos]
Paula Pina