Depois do sucesso de “Popville”, esta dupla de franceses, Anouck Boisrobert e Louis Rigaud, de novo se destaca pela inabalável inventividade e domínio técnico, oferecendo-nos, em edição portuguesa da Bruaá, o muito esperado “Na floresta da preguiça”, impresso com tintas de soja e em papel proveniente de fontes responsáveis. O esmerado trabalho de uma equipa técnica e criativa de exceção – direção artística de Gérard lo Monaco, conceção gráfica de Les Associés Réunis (Paris), desenvolvimento do projeto de engenharia de papel a cargo de Bernard Duisit, texto de Sophie Strady – concretiza-se num fantástico livro pop up.
Esta é uma obra para ler e descobrir entre exclamações de surpresa e maravilhamento. Começando pelo próprio título – “Na floresta da preguiça” e não “A preguiça na floresta”, por exemplo -, considere-se que o habitual protagonismo animal é transferido para a entidade “floresta”. Atente-se e estranhe-se a inicial em minúscula, que na capa nos revela ser título incompleto, integrado na citação da contracapa: “Tudo é verde, tudo é vida na floresta da preguiça…”, igualmente frase inicial do texto.
“Na floresta da preguiça” é uma homenagem e um aviso, uma narrativa exortativa, guiando o leitor num processo gradual de descobertas, convidando à observação e ao jogo (onde está a preguiça? “estás a vê-la?”), à construção de narrativas paralelas a partir de outras figuras e animais que não são mencionados no texto: onde está a serpente? onde está o porco espinho? onde está o macaco? e o tucano? e os seres humanos? e as crianças?, perguntamos nós. Esta é uma obra panfletária também, um repto direto à ação, pela frontalidade com que nos obriga a refletir sobre a factual vulnerabilidade e tenebrosa devastação da fauna e da flora da floresta amazônica. Contudo, não deixa de oferecer, no espanto final do renascimento, no mágico desdobramento do possível, uma mensagem de esperança.
Se esta é a floresta da preguiça (espécie ameaçada de extinção), numa possibilidade de dupla leitura, seremos nós também as “preguiças”, ensonadas, lentas, surdas, confortavelmente dependuradas no nosso ramo, ignorando até ao último instante que o mundo em redor está a desaparecer, “devorado”, literal e figurativamente, por “máquinas de mandíbulas terríveis”. Parar o processo de destruição não é uma utopia. Inversão de papéis é o que encontramos no final: a máquina devoradora é devorada pela floresta.
livro “Na floresta da preguiça”, de Anouck Boisrobert e Louis Rigaud
Bruaá, 2012
[a partir dos 3 anos]
Paula Pina