Yara Kono [ilustradora convidada, semana 1]

 

Nasceu no Brasil, tem família japonesa, mas foi em Portugal que Yara Kono afirmou a sua extraordinária identidade autoral como designer e, sobretudo, como ilustradora. Além de desempenhar um papel cada vez mais relevante no quadro criativo da editora Planeta Tangerina, da qual faz parte há quase uma década, tem sido igualmente convidada a publicar obras noutras casas centrais da literatura infantojuvenil nacional, da Caminho à Kalandraka. Yara Kono é a Ilustradora Convidada do Cria Cria nos meses de março e abril, um ano depois de ter visto o seu talento devidamente reconhecido ao receber o Prémio Nacional de Ilustração.

 

Cria Cria: Como (e quando) é que surgiu o desenho na sua vida? E como (e quando) é que o desenho começou a “transformar-se” em ilustração? Por que é que desenha? Ainda sente a mesma motivação que tinha quando começou a ilustrar?

Yara Kono: Surgiu naturalmente, assim como os primeiros passos ou as primeiras palavras… E, logicamente, não me recordo desses momentos, tampouco dos primeiros desenhos. Mas lembro-me que eu e os meus irmãos adorávamos preencher a parede da saleta com mil formas e cores – e com o passar dos anos, novas formas e cores foram surgindo sobre as antigas. Hoje a parede é branca (depois de muitas demãos) e foram-se os rabiscos, mas permaneceu o bichinho do desenho. Acho que comecei a ilustrar quando percebi, ainda pequena, que podia contar uma história a partir de um desenho que tinha feito e que, às vezes, um rabisco pode não ser apenas um rabisco. Viver em Portugal foi o ponto de viragem. Desde então, a ilustração e o álbum ilustrado passaram também a fazer parte da minha vida profissional.

Desenho por ser algo que gosto de fazer, por ser uma maneira de transmitir, de certa forma, o que vejo, o que sinto, o que penso… Às vezes ele (o desenho) surge de repente, no papel-toalha enquanto o prato não chega ou numa reunião infindável. Também funciona como válvula de escape (os momentos de fúria também são “desenháveis”) ou para explicar melhor algo que não consigo traduzir com palavras. Mas está ali, sempre. Faz parte do meu dia a dia.

Se calhar sinto-me cada vez mais motivada… A motivação é sempre grande quando fazemos algo que gostamos, e sobretudo quando a história nos cativa. O que muda é a experiência que adquirimos com o passar do tempo, que ninguém nos dá de bandeja (e que também ninguém nos consegue tirar).

 

ilustrações originalmente publicadas no livro “De sol a sonho” (Caminho, 2008)

 

Yara Kono: Sardinhas ou estorninhos? É uma ilustração de um poema do Raul Malaquias Marques que se chama “Enganos”. Tão simples, tão bonito, tão engraçado. Gostei tanto que fiz duas variantes para as guardas do livro. Não houve toques ou retoques, ou sequer enganos. Num piscar de olhos lá estavam elas (as sardinhas) a bailarem no céu (ou no papel). O mais curioso foi avistá-las no céu alentejano, depois do livro editado.

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