André da Loba [ilustrador convidado, semana 8]

 

A coluna Ilustrador Convidado do Cria Cria propõe dar a conhecer melhor ao longo dos meses de janeiro e fevereiro o nome e a obra de André da Loba. Apesar do seu trabalho ainda não ter alcançado o merecido reconhecimento aqui em Portugal, já atingiu níveis de excelência e prestígio mundial praticamente inéditos na história da ilustração nacional. Dotado de um talento e de um estilo singulares, André da Loba é um imenso motivo de orgulho criativo em qualquer parte do mundo.

 

Cria Cria: Imagina-se a fazer o que faz agora para sempre? Se não, o que se imagina a fazer daqui a 20 ou 30 anos? Que objetivos ainda pretende atingir na sua carreira? Se pudesse formular um desejo profissional, qual seria?

André da Loba: Queria, se me permitem, não responder às vossas perguntas. Se responder, vou ter de negar tudo o que escrevi aqui até agora. Pensar no futuro, por mais irresistível que seja, estraga-o. Tenho por norma não embarcar nesta prática. Sou mais do presente. Do agora. Às vezes parece-me que a nossa geração vive demasiado no futuro, à procura das garantias do passado; mas como eu acho que temos mais deveres do que direitos, sinto que para conseguir alguma coisa tenho de trabalhar e não fantasiar sobre ela. Isto não quer dizer que não sonhe, muito pelo contrário: sonho, e muito. Mas a melhor maneira de sonhar (ser futuro) é, a meu ver, investir no presente; estar presente agora e não estar daqui a um bocado. Gosto de pensar que sou mais marinheiro, não sou um piloto de estrada que acelera para chegar à meta. O argentino Jorge Bucay compara a vida a estar no meio do oceano: não conhecemos o destino, e não podemos saber sequer de que caminhos é feito o mar; mas se tivermos uma bússola, ou simplesmente soubermos encontrar a estrela polar, podemos saber onde estamos. “A felicidade é a certeza de não nos sentirmos perdidos”, disse Bucay. Por isso, neste momento estou mais a desfrutar do caminho do que qualquer outra coisa; desde que haja estrelas, estou bem…

 

ilustração originalmente concebida para o livro “O menino da lua”, com texto de Alice Vieira, não publicado (encomenda Caminho, 2008)

 

André da Loba:

Quid sit futurum cras, fuge quaerere, et
quem fors dierum cumque dabit, lucro
adpone nec dulcis amores
sperne, puer, neque tu choreas,
Horácio, “Odes” (1.9)

Deixa de perguntar sobre o amanhã, e
quaisquer que sejam os dias que o destino te trouxer,
conta-os como lucro, e enquanto és jovem não zombes
dos doces amores, nem das danças.

p.s.: Não consegui encontrar uma tradução em português que me satisfizesse, por isso, traduzi eu sob pena de não estar inteiramente correto. Se alguém tiver uma melhor, que diga, para nós mudarmos.

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