“O passeio da Dona Rosa” (“Rosie’s walk”, de 1968) foi o primeiro álbum infantil da jovem ilustradora inglesa Pat Hutchins, então com 26 anos, e é hoje, muito justamente, considerado um clássico. Linguisticamente, o texto potencia a aprendizagem de preposições e advérbios, sequenciações e reelaborações, com resultados fantásticos em sala de aula, em casa e ao colo. A extrema concentração e inteligente brevidade circular do texto, revelando um ótimo sentido de encadeamento e dinâmica temporal, são largamente ampliadas pela elaboração gráfica. De facto, a simplicidade da obra é apenas aparente e funcional, já que a leitura que se nos oferece é dupla: seguimos a voz que narra o passeio da galinha, na sua soberba dignidade ensonada e apático desinteresse pelo que a rodeia; seguimos, simultaneamente, e com o olhar apenas, as acidentadas peripécias, cómicas, vívidas e silenciosas, da raposa de corpo maravilhoso e olhos emotivos.
Nestas geniais vinhetas, Pat Hutchins elabora instantâneos de uma ancestral relação entre predador e presa, misturando, em doses equilibradas, requinte vanguardista e comédia divertida e solarenga. As cores limonadas e alaranjadas, de uma acidez exótica, conjugam-se em complexas amálgamas de padrões, pontos, linhas e círculos, criando minúsculos elementos secundários (como pássaros, insetos, plantas e flores) que, pela sua similitude estilística, evocam universos e técnicas de ilustração orientais antiquíssimas – como o patua de Bengala, dos famosos rolos indianos pintados e cantados das mulheres de Naya – e digladiam méritos de protagonistas emoldurados.
livro “O passeio da Dona Rosa”, de Pat Hutchins
Kalandraka, 2011
[a partir dos 3 anos]
Paula Pina