Foi no dia 29 de janeiro de 1959 que estreou “Sleeping beauty”, realizado por Clyde Geronimi, resultado de um trabalho que durou quase uma década a ser concluído e que para os estúdios da Disney, apesar do fracasso de bilheteira, viria a encerrá-la com chave de ouro. Não obstante o enredo básico reinventado e a presença de uma princesa que pouco mais é que uma presença abonecada e passageira com uma bela voz (a de Mary Costa), o clássico conto de fadas de Perrault encontra nesta produção uma concretização visual (estética e técnica) e musical ambiciosa e intemporal, feito notável, sobretudo depois do sucesso imbatível de “Cinderella” em 1950.
Se a Princesa Aurora é um relativo desapontamento, o Príncipe Philip, pelo contrário, impõe-se como um dos favoritos heróis masculinos do painel da Disney: a sua personalidade cativante, a perseverança e coragem que demonstra, ganham efetiva centralidade no filme. Este princípe destaca-se pela voz (a de Bill Shirley) e pelo trabalho de produção técnica na obtenção de realismo humano nos seus movimentos e gestos, tendo o injustamente esquecido Ed Kemmer como modelo perfeito – ator, pintor e bricoleur, herói também na vida real, piloto de combate na II Guerra Mundial, abatido e feito prisioneiro num campo alemão, foi ele fonte de inspiração para o clássico “The great escape” (1963, de John Sturges) e, entre outros papéis, desempenhou o do inesquecível capitão “Buzz” Corry em “The space patrol”, programa de rádio e série televisiva da ABC, transmitido entre 1950 e 1955.
Para além do príncipe, as fadas, de personalidades contrastantes, ativas e decididas, divertidas e maternais, desempenham, em trio, um dos papéis secundários mais relevantes de sempre, influenciando a cada instante o curso da ação. Veja-se a fabulosa passagem final, em que transformam os pedregulhos em queda em bolas de sabão, as setas mortíferas em flores e o azeite a ferver num arco íris. Finalmente, há que referir a criação de uma das vilãs mais maléficas e marcantes de sempre, não só pelo desenho das suas roupagens, mas pela espantosa metamorfose final em dragão: Maleficent (com a voz de Eleanor Audrey).
Por outro lado, as adaptações e arranjos criados a partir da música do equivalente bailado de Tchaikovsky, interpretada pela Berlin Symphony Orchestra, não poderia ser mais adequada, funcionando na perfeição, quer enquanto canção (como em “Once upon a dream”), quer como intensificador emocional nos momentos chave e sequências de luta.
Mas um dos objetos mais extraordinários continuará a ser, para nós, o livro, real e mágico, cravejado de pedras preciosas.
Paula Pina