“2012”, o filme de Roland Emmerich, tem um mérito: não sendo mais do que um típico filme mega-catástrofe, tenta compensar em impacto visual o que lhe falta em dimensão narrativa e profundidade concetual, usando o fenómeno natural como personagem de um modo tecnológico altamente especializado, roçando o quase inimaginável. Na verdade, acaba por ser uma obra que se vira para dentro de si própria – transforma-se num filme sobre tecnologia hardware rápida e potente, sobre software inteligentíssimo, obrigando, em última instância, o espetador – mesmerizado com os efeitos gráficos computadorizados que irrompem em virtuais catadupas cronométricas na grande tela – a refletir sobre os técnicos/artistas/autores que conseguem trabalhar esses efeitos numa tão complexa escala.
Com crianças e adolescentes, que nos interrogam sobre probabilidades de ocorrência de desastres naturais como os retratados no filme, como os que os noticiários divulgam e as previsões apocalíticas anunciam, talvez seja interessante falar de obras como The Ark, do arquiteto Alexander Remizov. Este edifício, uma nova arca de Noé, pode fornecer aos seus habitantes a possibilidade de sobrevivência, desprendendo-se das suas fundações em caso de elevação do nível dos oceanos e flutuando magicamente. Preparada para manutenção climática e para a produção de alimentos e plantas, parece um milagre arquitetónico, aliando design e autosustentabilidade.
Para os mais pequeninos, talvez o melhor seja mesmo manipular o livro animado “A arca de Noé”, que nos apresenta a história bíblica num formato simpaticamente tridimensional. Um pop up da autoria do designer e experiente engenheiro de papel Olivier Charbonnel, conhecido por trabalhos como o impressionante “Je vous écris de Versailles”, o original “L’atelier du Pére Noel”, o divertido e surpreendente “Don’t do that” ou o didático “Le petit théâtre d’ombres”.
livro “A arca de Noé”, de Sabrina Bus [texto], Xavier Deneux [ilustrações] e Olivier Charbonnel [criação em papel]
Edicare, 2011
[a partir dos 2 anos]
Paula Pina