A artista austríaca Helen Siegl (1924 / 2009), católica devota, ativista e pacifista, viveu os horrores do nazismo, emigrando depois para o Canadá e estabelecendo-se nos Estados Unidos. Gravadora exímia, as suas litografias e trabalhos em madeira e gesso, com temáticas religiosas e bíblicas, têm como protagonistas frequentes crianças, plantas e animais, e expressam, com uma singularidade extraordinária, uma transcendente capacidade de superação do sofrimento através da religião e da arte, ligadas pelo sentido de experiência mística.
Servia-se muitas vezes dos seus oito filhos como modelos, tendo começado como ilustradora de uma revista para crianças, e deixando-nos imagens para diversas antologias de contos orientais, africanos, uma extraordinária edição das “Fábulas de Esopo” e uma coleção de imagens do “Velho testamento” e de cânticos de Natal.
Manteve, ao longo da carreira, o pendor contemplativo e a apetência pela vida monástica, a que juntava um agudo sentido de responsabilidade social e partilha comunitária. Espiritualidade e materialidade em harmonia enlaçam-se em figuras, danças e movimentos, num dinamismo gráfico, sábio e ingénuo, ora de uma complexidade genuinamente divertida e cativante, ora de uma simplicidade surpreendente, ancestral.
Numa entrevista de 2004, Helen Siegl disse: “Ser criativo é uma afirmação de vida. Espanto e maravilhamento, alegria e êxtase, têm um poder muito maior do que a morte e o sofrimento.”
Paula Pina