– Que horas são?
– Quase 9.
– 9 da manhã ou 9 da noite?
– O que lhe parece?
– Se soubesse não perguntava.
– Parece-lhe que é de manhã?
– Não é isso que interessa. Se são 9, são 9 da manhã. Se são 21 horas, são da noite. Aliás, a terminologia inglesa a.m. e p.m. é utilíssima nestes casos e acho sinceramente que o…
– É de noite.
– A sério? Não sabia. Passo os dias todos aqui enfiado e não sei se é dia ou noite, se chove ou se faz sol. Considero também que seria possível arranjar um sistema de medição que…
– Fez sol. Agora está a chover.
(…)
– Já está pronto? Não tem a cor certa. Junta mais umas gotas da solução A2ZE com NaNO3. Creio que isso será suficiente para agitar as partículas.
– Assim?
– Hum?
– Assim? Já misturei a solução toda e continua com uma cor esquisita.
– Fizeste o quê?
– Misturei e dissolvi a solução, como me disse para fazer…
– O quê? O que fizeste? Seu…
– Eu fiz exatamente o que me disse para fazer. Misturei a solução A12E com…
– A A2ZE?!… Não… não… não…
– Mas…?
– Baixa-te. Isto vai explodir!
(…)
– Explodiu mesmo.
– Não serves para assistente. Estás despedido.
(…)
– Parou de chover.
– O quê?
– Parou de chover. Se olhar através do buraco que ficou no teto, vê-se a lua. E parou de chover.
– Hã?!
– Está cheia.
– Hum? Olha… pois está. E é amarela…
– Tem a cor certa.
– Pois tem. Tem mesmo a cor certa.
Paula Pina, com ilustração de Cesária Martins