Daily Archives: October 25, 2011

Madalena Matoso [ilustradora convidada, outono 2011, semana 6]

Dando continuidade ao nosso ciclo Ilustrador Convidado, neste outono de 2011 estamos a receber Madalena Matoso, uma das criadoras mais relevantes no campo da ilustração infantojuvenil portuguesa da última década, mas também uma designer brilhante, editora e fundadora da Planeta Tangerina, casa que publicou muitos dos seus mais notáveis trabalhos. Semanalmente, Madalena Matoso aqui responderá a uma das nossas perguntas e aqui apresentará uma sua ilustração de que se orgulhe particularmente.

 

Cria Cria: Tem pesadelos com as suas ilustrações? E sonhos bons? Os seus momentos de criação são, por norma, felizes? Ou são difíceis?

Madalena Matoso: Não tenho pesadelos mas, às vezes, não me deixam dormir. Há momentos de criação difíceis e outros fáceis. Há livros em que começo por ter momentos difíceis e, sem saber muito bem quando ou porquê, torna-se tudo mais fácil. Às vezes, posso saber que ainda não encontrei o caminho certo, mas vou avançando até aparecer o caminho certo (ou o que, na altura, me parece certo), e começo tudo de novo. Há livros para os quais tenho uma quantidade enorme de desenhos que ficaram para trás; há outros em que só tenho dois ou três que não se usaram. Muitos desses desenhos que não aparecem no livro nem sequer estão acabados, são abandonados a meio (mas, às vezes, é um desses que não se chega a acabar que nos dá a ideia para o que queremos mesmo fazer).

 

ilustração originalmente publicada no livro “Cá em casa somos…” (Planeta Tangerina, 2009)

 

Madalena Matoso: Neste livro, os números ajudam-nos a conhecer melhor a vida de uma família. Em cada página ficamos a saber o número de pés, de pernas, de dentes, de cabelos, etc. que há “lá em casa”. As primeiras ilustrações que fiz eram bastante descritivas em relação ao texto e seguiam sempre a lógica de “confirmar” os números que eram referidos. Mas quando as vimos todas juntas achamos que eram muito parecidas entre si. Uma das coisas que mais gosto de trabalhar quando faço um livro é a sequência das imagens, o ritmo das páginas. Quando fazemos uma ilustração isolada (para um cartaz, para uma capa de livro ou para a imprensa) é completamente diferente. Num livro, mais importante do que cada imagem isolada, é o conjunto — o modo como as imagens funcionam umas depois das outras (para além da relação com o texto). Assim, fiz uma segunda versão com ilustrações mais abstratas e abertas. Alguns dos desenhos que ficaram de fora poderiam, à primeira vista, parecer mais ricos, por terem mais pormenores, mas eram também mais fechados e permitiam menos leituras. Cada página tem um tempo próprio. Umas são para ver muito depressa, outras são para ficarmos lá muito tempo (e de cada vez que pegarmos no livro vai ser sempre diferente).

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