Dando continuidade ao nosso ciclo Ilustrador Convidado, neste outono de 2011 estamos a receber Madalena Matoso, uma das criadoras mais relevantes no campo da ilustração infantojuvenil portuguesa da última década, mas também uma designer brilhante, editora e fundadora da Planeta Tangerina, casa que publicou muitos dos seus mais notáveis trabalhos. Semanalmente, Madalena Matoso aqui responderá a uma das nossas perguntas e aqui apresentará uma sua ilustração de que se orgulhe particularmente.
Cria Cria: Tem segredos ou técnicas especiais no seu método de trabalho que nos possam ajudar a desenhar melhor?
Madalena Matoso: O segredo para desenhar melhor é simples: desenhar. Quanto mais desenharmos, melhor desenhamos. Claro que para desenhar muito é preciso gostar de desenhar (e “isso” é mais difícil de explicar, não se sabe muito bem de onde vem, se está na mão, na cabeça, nos olhos). O meu professor de desenho da Sociedade de Belas Artes dizia que aprender a desenhar era como aprender uma língua estrangeira – não era preciso nascer com “nada de especial” para desenhar. E é verdade, há muitas técnicas que se podem ensinar/aprender para desenhar melhor. Mas depois há a vontade de desenhar, o estar sempre a desenhar, que não se ensina.
Por vezes, o desenho também pode ser uma luta. Li há poucos dias, sobre uma exposição do Rui Chafes: “Aquele que desenha também não pode deixar de se ferir com o que trabalha: a sua própria ferida.” (…) “As feridas são um dom. É delas que surge a obra, porque é delas que se alimenta o artista.”
ilustração originalmente publicada no livro “A charada da bicharada” (Texto Editores, 2008)
Madalena Matoso: Esta ilustração foi feita para o livro “A charada da bicharada”, com texto de Alice Vieira. Quando me enviaram o texto com as charadas, percebi que havia um quase-problema: não podia desenhar um gato para ilustrar o texto sobre o gato. Na altura, fiquei muito entusiasmada porque achei que era a oportunidade ideal para fazer um livro cheio de dobragens, em que só se revelaria o animal quando se desdobrassem as páginas. Como era uma editora grande, achei que seria viável fazer um livro de produção mais cara (que no Planeta Tangerina seria insustentável). Mas, depois, em conversa com o Jorge Silva, que na altura era o diretor de arte do grupo Leya/Texto, percebemos que uma produção muito complicada também não seria possível. Assim, vi-me “condicionada” (no bom sentido) às páginas normais de um livro e tive de encontrar uma solução para ilustrar cada adivinha sem desvendar o animal mistério. Experimentei, então, fazer ilustrações em que o animal estivesse lá mas que não se visse num primeiro olhar.
Acabei por me divertir muito a fazer estes desenhos porque inventei histórias para a ilustração “que se via” (vagamente relacionadas com o “tema”), e o único compromisso era que o animal lá estivesse escondido.