“Juro que vi um dinossauro!”, de Jeanne Willis com ilustrações de Adrian Reynolds

A recentemente publicada obra de  Jeanne Willis e Adrian Reynolds, “Juro que vi um dinossauro!”, junta-se aos dois outros volumes dos mesmos autores editados pela Civilização em 2010: “Quem está na casa de banho?” e o divertido “Não tem graça!”. O ilustrador Adrian Reynolds é mais conhecido em Portugal através da série de animação “Harry e o balde de dinossauros”. O seu talento para a criação de sequências cinematográficas é visível neste livro.

Trata-se de uma história, narrada em verso, na linha tradicional das lengalengas e dos contos acumulativos, tal como nas obras anteriores. Neste caso, brincando com o conceito-chave do boato, a obra acaba por oferecer uma reflexão sobre o próprio processo de criação de notícias e uma lição sobre estratégias de marketing. Partindo da afirmação categórica que dá nome ao livro, aquela que seria naturalmente considerada uma frase exclamativa puramente infantil e imaginativa, descartada por qualquer adulto razoável com um simples encolher de ombros e um “sim, sim, pois” condescendente, somos empurrados para uma verdadeira aventura, com um ritmo alucinante, imparável até nas respirações de uma leitura em voz alta. O narrador, de primeira pessoa, dá a notícia (ou conta a história, revela uma descoberta) em primeira mão ao leitor. O juramento que acompanha a notícia parece conferir-lhe toda a seriedade: quem jura que vê, viu mesmo, e, portanto, será credível. Esta credibilidade funciona aqui com um efeito bola de neve, levando tudo e todos pelo caminho, não importa a hierarquia, profissão, estatuto, crença ou relação, humano ou animal, do padeiro à veterinária, do padre aos cientistas, aos jornalistas e à Marinha, à Força Aérea e Exército. O autor da façanha junta-se ao leitor/espetador, ao longo das páginas, observando e comentando, com distanciamento e ironia, os efeitos da sua iniciativa. Um dos momentos mais cómicos surge quando um grupo de crianças (protagonista incluído), lambuzadas de gelado, vê as notícias na televisão. Ao lado, um avô placidamente adormecido na poltrona. Em cima do aparelho, um gato siamês espreita pela janela os mesmos navios de guerra e helicópteros que surgem no ecrã. Segue-se o momento climático da obra (pelo menos para os mais pequenos), quando a silhueta escura de um dinossauro enche as páginas.

No final, o narrador celebra, imodestamente, o sucesso do plano: “Mas haverá mesmo algum dinossauro em carne e osso? / Ou não passou tudo de um dos planos por mim engendrados / que criou todo este alvoroço / Para o meu pai vender mais gelados?” A resposta a esta questão aparece só na última linha da última página, ou melhor, na ilustração que a acompanha. Nós nunca vimos dinossauros em carne e osso, mas, inspirados pelas guardas do livro, ficámos com vontade de os desenhar. Antes disso, contudo, vamos ali num instantinho comprar um gelado. Sim, um gelado, não fiquem de boca aberta. Entretanto, podem ficar aí, entretidos a tentar descobrir onde se esconde o discreto dinossauro nas páginas coloridas do livro.

 

livro “Juro que vi um dinossauro!”, de Jeanne Willis com ilustrações de Adrian Reynolds
Civilização, 2011
[a partir dos 4 anos]

 
Paula Pina

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