Szymborska, uma. Andresen, outra. Wislawa nasceu polaca, neste 2 de julho, em 1923. Sophia de Mello Breyner morreu portuguesa, neste 2 de julho, em 2004. Poetisas. Wislawa Szymborska recebe o Prémio Nobel da Literatura em 1996. Sophia nunca o recebeu. Recordando Sophia, celebramo-la com Wislawa (mesmo não sabendo polaco, mesmo transportando as traduções, a tal água escorrendo por entre os dedos das nossas mãos em concha…). Gostamos de poesia. Desta. Inteira, aos pedacinhos, às vezes seja como for.
Alguns gostam de poesia
Alguns —
quer dizer que nem todos.
Nem sequer a maior parte mas sim uma minoria.
Não contando as escolas onde se tem que,
e quanto a poetas,
dessas pessoas, em mil, haverá duas.
Gostam —
mas gosta-se também de sopa de esparguete,
dos galanteios e da cor azul,
do velho cachecol,
brindar à nossa gente,
fazer festas ao cão.
De poesia —
mas que é isso a poesia?
Muitas e vacilantes respostas
já foram dadas à questão.
Por mim não sei e insisto que não sei
e esta insistência é corrimão que me salva.
Wislawa Szymborska, in “Paisagem com grão de areia” (tradução de Júlio Sousa Gomes, Relógio d’Água, 1996)
Descoberta
Eu acredito na recusa de tomar parte.
Eu acredito na carreira arruinada.
Eu acredito nos anos de trabalho desperdiçados.
Eu acredito no segredo levado para o túmulo.
Estas palavras curam-me para além de todas as regras
Sem procurar o apoio de exemplos concretos.
A minha fé é forte, cega, e sem qualquer fundamento.
“Eu não tenho porta”, diz a pedra.
Wislawa Szymborska (nossa tradução do inglês)
Paula Pina