Daily Archives: June 1, 2011

Presente perfeito (pelo Dia Mundial da Criança)

Opções, hipóteses, ideias, possibilidades, sugestões, mas essencialmente – assumidamente – as nossas escolhas de eleição do recente mercado das profundas crises, para que eles possam acrescentar um pouco de memória particular a este seu Dia Mundial que hoje se impõe. Presentes perfeitos, ou quase, como prenúncio de um futuro mais-que-perfeito, com tanta ou mais criatividade e amor do que as que em seguida se inventariam. As idades aqui associadas são, para que não sobrem dúvidas, meramente referenciais – sem erguer muros intransponíveis, celebrando a experiência e a liberdade pedagógica acima de qualquer dogma.

 

roca Pássaro Vermelho com som

Käthe Kruse / import. Cristina Siopa

[a partir dos 0 meses]

 

roca Porquinho Tricot com som

Käthe Kruse / import. Cristina Siopa

[a partir dos 0 meses]

 

roca Haba em madeira de faia

Haba

[a partir dos 6 meses]

 

bonecos Ugly Dolls

Ugly Dolls / import. Sig Toys

[a partir dos 10 meses]

 

Carro de corrida tronco

Treeblocks / import. Cristina Siopa

[a partir dos 18 meses]

 

livro “Praia mar”, de Bernardo Carvalho

Planeta Tangerina, 2011

[a partir dos 18 meses]

 

livro “Um livro”, de Hervé Tullet

Edicare, 2010

[a partir dos 2 anos]

 

livro “De caras”, de André Letria e José Jorge Letria

Pato Lógico, 2011

[a partir dos 2 anos]

 

livro “Estrambólicos”, de André Letria e José Jorge Letria

Pato Lógico, 2011

[a partir dos 2 anos]

 

mini-puzzle “Matchbox puzzle – 12 piece puzzle”

Crocodile Creek / import. Sig Toys

[a partir dos 3 anos]

 

livro “Popville”, de Anouck Boisrobert e Louis Rigaud

Bruaá, 2010

[a partir dos 3 anos]

 

livro “Isto ou aquilo?”, de Dobroslav Foll

Bruaá, 2011

[a partir dos 3 anos]

 

livro “Panoramas do mundo”, de Géraldine Cosneau

Edicare, 2010

[a partir dos 3 anos]

 

livro “Para fazer o retrato de um pássaro”, de Jacques Prévert com ilustrações de Mordicai Gerstein

Faktoria de Livros, 2011

[a partir dos 4 anos]

 

disco “Sunny day”, de Elizabeth Mitchell

Smithsonian Folkways / Mundo da Canção, 2010

[a partir dos 5 anos]

 

livro “Bichos, bichinhos e bicharocos”, de Sidónio Muralha, Júlio Pomar e Francine Benoit

Althum / Centauro, 2010

[a partir dos 5 anos]

 

disco “B Fachada é pra meninos”, de B Fachada

Mbari, 2010

[a partir dos 6 anos]

 

livro “Isto é Nova Iorque”, de M. Sasek

Civilização, 2011

[a partir dos 6 anos]

 

livro “Isto é Londres”, de M. Sasek

Civilização, 2011

[a partir dos 6 anos]

 

livro “Isto é Paris”, de M. Sasek

Civilização, 2011

[a partir dos 6 anos]

 

livro “Isto é Roma”, de M. Sasek

Civilização, 2011

[a partir dos 6 anos]

 

livro “Desenhar, rabiscar e colorir”, de Erica Harrison e Katie Lovell

Edicare, 2011

[a partir dos 6 anos]

 

disco “Fala mansa”, de Norberto Lobo

Mbari, 2011

[a partir dos 7 anos]

 

livro “O livro do buraco”, de Peter Newell

Libri Impressi / Gradiva, 2011

[a partir dos 7 anos]

 

livro “O livro das caras”, de Claire Didier e Beppe Giacobbe

Edicare, 2010

[a partir dos 7 anos]

 

livro “Ginástica animalástica”, de Isabel Minhós Martins com ilustrações de João Fazenda

APCC, 2010

[a partir dos 8 anos]

 

disco “The magic place”, de Julianna Barwick

Asthmatic Kitty, 2011

[a partir dos 8 anos]

 

dvd “Gru, o maldisposto”, de Pierre Coffin e Chris Renaud

Universal, 2011

[a partir dos 9 anos]

 

 

livro “Charlie e a fábrica de chocolate”, de Roald Dahl com ilustrações de Quentin Blake

Civilização, 2011

[a partir dos 10 anos]

 

livro “Na noite escura”, de Bruno Munari

Bruaá, 2011

[a partir dos 11 anos]

 

disco “Stone rollin'”, de Raphael Saadiq

Columbia / Sony, 2011

[a partir dos 12 anos]

 

disco “Hot sauce committee, part two”, dos Beastie Boys

Capitol / EMI, 2011

[a partir dos 13 anos]

 

livro “My monster notebook”, de John Harris e Mark Todd

Thames & Hudson, 2011

[a partir dos 14 anos]

 

 

 

Bruno Bènard-Guedes

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Dia Mundial da Criança

Uma das descobertas mais admiráveis da humanidade é o direito à felicidade. Neste Dia Mundial da Criança, invenção recente de 61 anos, o aniversário empurra-nos para a consciência do tempo que passou. Em 1946, período pós 2.ª guerra mundial, numa Europa devastada, milhões de crianças ficaram órfãs, sofrendo terrivelmente com a fome, com as doenças, com o abandono e a discriminação. Cientes que sem uma sensibilização global seria muito mais difícil ultrapassar estas dificuldades, a Federação Democrática Internacional das Mulheres (Women International Democratic Federation) propôs então à O.N.U. a criação de um dia especial, dedicado às crianças do mundo inteiro. Esse dia foi o 1.º de junho de 1950. Mas só em 1959, a 20 de novembro, a O.N.U. aprovou a Declaração Universal dos Direitos da Criança.

ilustração de Susy Lee, in "Onda"

Nunca antes na história do mundo se pensara o bem-estar da criança desta maneira. Os estados-membros das Nações Unidas reconheceram finalmente às crianças, independentemente da raça, cor, sexo, religião e origem nacional ou social o direito ao afeto, ao amor e à compreensão; a uma alimentação adequada e a cuidados médicos; a uma educação gratuita; à proteção contra toda e qualquer forma de exploração; e o direito a crescer em clima de paz e fraternidade universais. São dez princípios sintéticos, que, se cumpridos, assegurariam a todas as crianças do mundo uma vida feliz. Só em 1989, passados 30 anos, é que a O.N.U. aprovou a “Convenção sobre os Direitos da Criança”, longo documento constituído por 54 artigos que servirá de base à criação, em 1990, da lei internacional dos direitos da criança. Quanto à Women International Democratic Federation, continua hoje ainda em atividade, contando com 660 filiais e representantes de 160 países.

Paula Pina

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Vale a pena crescer? Vale a pena crescer hoje?

Sim, crescer dói porque a cada momento deixamos para trás um pedacinho de nós. Às vezes, damos conta e tentamos voltar atrás, vasculhando entre os nossos cacos e os dos outros, ou procurando nas tabuletas as indicações “Perdidos e achados de nós”. Ora encolhidos, ora altivos, ora refilando e revolucionando, ora simplesmente fungando nossas lágrimas-leite derramado. Às vezes, nem nos apercebemos. Outras ainda, colocamos aos ombros a nossa sacudida capa-do-ora-ainda-bem-teve-de-ser e seguimos. Às vezes fazemos bem, outras, nem por isso. E aqui estamos, só medos e coragens.

Homenageamos a coragem dos (das! Mulheres!) que lutaram pela “legalização da felicidade” das crianças do mundo em 1950, instituindo o Dia Mundial da Criança. Homenageamos a coragem das crianças que hoje (e ontem e de ontem, que somos nós também) nos falam dos obstáculos a essa mesma felicidade. Lado a lado. Que neste dia 1 de junho de 2011, Dia Mundial da Criança, dia de nascimento do blogue Cria Cria, nos curemos um bocadinho de nós. Crescendo e criando um bocadinho de nós. Sendo a “cria” que cria, e por essa criação deve ser amada e respeitada, aqui colocamos o que elas, pequenas, dizem, sem comentários, sem conflitos, sem omissões:

a) sobre elas, crianças, o que nos dizem elas, crianças:

“Quero ser criança quando for grande” (Daniel H., 4 anos, Bairro do Condado);
“Ser criança é ser brilho” (Inês N., 3 anos, Vila Real);
“Ser criança é quando uma pessoa porta-se mal [sic]” (Beatriz F., 3 anos, S. João da Talha);
“Vou ser criança todos os dias porque posso sujar as mãos” (Marta A., 3 anos, Vila Real);
“Eu não me lembro de ser pequenina…Quando vocês eram pequeninos, quem é que tomava conta de mim?” (Beatriz A., 3 anos, Atouguia da Baleia).

Frases retiradas do “Cancioneiro infanto-juvenil para a língua portuguesa” (volumes X e XI, “Silêncio é o barulho baixinho!…”, Instituto Piaget, 2000; e volume XIII, “A minha vida é uma memória”, Instituto Piaget, 2006).

b) e lá em casa também já se ouviram coisas como:

“Ser grande também é acordar ainda pequeminina [sic] todos os dias” (Mariana D., 4 anos, Lisboa)
“Quando for grande vou nascer pequenino outra vez” (David D., 4 anos, Lisboa)

c) sobre o que em nós, os “grandes”, não lhes agrada e que sabiamente sintetizam:

“Que estejam sempre a dizer mentiras, dizendo que sim e afinal é não”;
“Quando nos dão beijinhos com baton e cheiram mal da boca”;
“Que nos gozem quando temos medo do escuro e de outras coisas”;
“Que estejam sempre muito ocupados para brincar e depois passam horas a contar a vida toda ao telefone”;
“Que nos chamem nomes”;
“Que nos ponham de castigo e ao mesmo tempo nos deem abraços”;
“Que nos leiam as histórias a despachar”;
“Que digam que vamos fazer uma atividade muito gira e depois não tem graça nenhuma”;
“Que falem de nós à nossa frente como se não estivéssemos presentes”;
“Que nos deem sermões”;
“Que pensem logo que somos culpados”;
“Que estejam sempre atrasados e cheios de pressa”;
“Que nos digam que o Pai Natal não existe”;
“Que digam que os nossos desenhos são muito bonitos quando nós sabemos que são horríveis”;
“Que façam compras em hipermercados durante o dia todo”;
“Que não comprem as nossas bolachas mas comprem as cervejas”;
“Que nunca possam ir à minha escola”;
“Que me toquem quando eu não quero”;
“Que me batam porque não mudei a fralda à mana e não lhe dei o leite porque me distraí a ver os desenhos animados”;
“Que digam que ainda não tenho idade para fazer coisas ou que já não tenho idade para fazer outras coisas”;
“Que digam ‘que chatice, agora não é conveniente’ eu ficar doente”;
“Que digam que as pessoas que não veem e usam bengala ou andam de cadeira de rodas são coitadinhas”;
“Que me ignorem na fila do supermercado e me passem à frente”;
“Que digam mal dos meus amigos só porque são diferentes e vieram da China e da Rússia”;
“Que apontem para as pessoas que andam a pedir na rua e me perguntem se quero ser como elas porque me esqueci de fazer os trabalhos de casa”;
“Que digam que é por eu ter nascido que somos pobres”;
“Que digam que a minha música está muito alta e depois não baixem o volume da televisão quando está a dar futebol”;
“Que mandem sem dizer ‘por favor’”;
“Que não acreditem quando me dói a barriga”;
“Que me obriguem a tocar violino para as visitas”;
“Que se esqueçam de me ir buscar ao ATL”;
“Que digam que fiz de propósito quando foi sem querer”;
“Que eu goste tanto deles à mesma quando eles não gostam de mim”;
“Que façam listas que nunca mais acabam”.

Esta lista é uma recolha nossa, de frases de crianças portuguesas, efetuada em escolas e jardins de infância das regiões de Lisboa e Setúbal, a que juntámos outras, dos nossos familiares e amigos. Muitas foram recolhidas entre dezembro de 2010 e maio de 2011; outras são “pérolas” da nossa coleção pessoal.

 

 

d) as frases que se seguem são de crianças de Bolonha, Carpi e Veneza, publicadas originalmente em 1987, por Francesco Tonucci, no livro “Criança se nasce”.

“O que não nos agrada nos grandes

Que quando andamos de bicicleta queiram sempre que eu esteja à frente deles;
Que me façam comer aquilo que não me agrada;
Que me obriguem a usar fatos que não me agradam mas que lhes agradam a eles;
Que quando nós, crianças, fazemos uma pergunta aos pais, não possamos saber a resposta ou porque somos muito pequenos ou porque são coisas demasiado difíceis de explicar;
Quando nos levam para sítios para onde não gostamos de ir;
Quando os grandes conversam sobre os seus problemas e nos excluem porque somos muito pequenos;
Quando jogamos juntos e ganhamos, eles dizem que fizemos batota;
Quando se zangam entre si;
Que o meu pai ou a minha mãe descarreguem a sua raiva sobre mim;
Que tomem decisões sem a nossa opinião;
Que nunca nos deem a conhecer os seus problemas e não se façam compreender;
Que nos mandem sempre calar;
Que me obriguem a comer legumes, prometendo-se que se os comer me farão batatas fritas;
Que os professores nos gozem;
Quando o meu pai goza comigo e me chama ‘orelhas de elefante’ porque tenho as orelhas grandes;
Que falem sempre de negócios em vez de assuntos que a nós, crianças, nos são agradáveis;
O nosso professor quando explica a lição, zanga-se e, para castigo, dá um exercício para toda a turma;
Quando a minha vizinha nos impede de brincar no nosso pátio;
Quando os professores se gabam dos seus alunos;
Quando o meu pai me obriga a desenhar, porque ele é muito bom e quer que eu seja como ele;
Que o meu pai, no café, compre sempre rebuçados ao seu sobrinho e não ao seu filho (a mim);
Que praguejem;
Que fumem;
Quando o meu pai vai ao café, leva-me sempre consigo e quando chegamos lá, vai ter com os seus amigos e eu para ali… sozinho;
Que não me deem atenção;
Que não me deixem andar de bicicleta, porque têm medo que eu fique debaixo de um carro;
Quando a minha mãe lava a roupa e deve estendê-la, chama-me sempre para lhe dar as molas;
Que nos batam, quando fazemos mal qualquer coisa;
Que digam muitos ‘palavrões’;
Quando era mais pequeno, a minha mãe mandava-me para a cama depois do almoço; depois soube que ela o fazia porque as suas amigas o faziam;
Quando brinco com os meus amigos, a minha mãe interrompe-me para eu ir despejar o lixo;
Que o meu pai esteja sempre a olhar para mim, quando faço o trabalho de casa para a escola;
Que batam nos cães, quando estes os irritam;
Que queiram que nós respeitemos os meninos mais pequenos e que os deixemos ir sempre à frente no carrocel [sic] ou noutros lugares;
Que não queiram o Bolinhas, o meu cão, no condomínio;
Que quando temos febre, devemos ficar na cama;
Quando o professor de natação, antes de nos deixar ir para a água, nos faça fazer meia hora de ginástica, e assim, quando entro na piscina, vou ao fundo, devido ao cansaço;
Não me agrada tornar-me como certos pais que se embebedam ao café;
Que queiram ter sempre razão;
Não me agrada, quando me proíbem de fazer algo que eles fazem logo de seguida;
Quando prometem uma coisa e depois não a fazem;
Quando não te ouvem;
Quando dizem ‘não comas isso, não comas aquilo’ e depois se empanturram”.

Francesco Tonucci é um pedagogo, investigador e ilustrador italiano, nascido em 1941. Publica em diversas revistas pedagógicas italianas, sob o pseudónimo Frato. Concebido por Tonucci em 1968, por razões psico-pedagógicas, Frato rapidamente se torna num sucesso, tanto junto de adultos, professores e pais, como junto das crianças. O seu primeiro livro de banda desenhada foi “Com olhos de criança” e os seus desenhos, verdadeiras sínteses humorísticas, por vezes duramente satíricas, ora nos desconjuntam em gargalhadas, ora nos fazem mirar, impúdicos, as nossas vergonhas ao espelho.

 

 

Algumas obras publicadas em português:
“Criança se nasce” (Instituto Piaget, 1987)
“Com olhos de criança (Instituto Piaget, 1988)
“As novas aventuras do Pinóquio” (Instituto Piaget, 1989)

Paula Pina

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Proposta

O exercício inaugural deste blogue é uma reflexão sobre a felicidade e o bem-estar, conceitos tão recentes e mensuráveis. A felicidade e o bem-estar enquanto variáveis relacionais, enquanto direitos e metas, enquanto pontos de vista e ações.

Ouvimos então dois discos e selecionámos dois temas: a banda Pequeno Cidadão, de Arnaldo Antunes, com a canção que dá nome ao projeto (2009), e “Criança não trabalha” (1998), também composta em parceria por Arnaldo Antunes para o grupo Palavra Cantada. Que bom ouvi-los…

Pequeno cidadão

Agora pode tomar banho,
Agora pode sentar pra comer,
Agora pode escovar os dentes,
Agora pega o livro, pode ler.

Agora tem que jogar videogame,
Agora tem que assistir TV,
Agora tem que comer chocolate,
Agora tem que gritar pra valer.

Agora pode fazer a lição,
Agora pode arrumar o quarto,
Agora pega o que jogou no chão,
Agora pode amarrar o sapato.

Agora tem que jogar bola dentro de casa,
Agora tem que bagunçar,
Agora tem que se sujar de lama,
Agora tem que pular no sofá.

É sinal de educação
Fazer sua obrigação,
Para ter o seu direito
De pequeno cidadão.

(Arnaldo Antunes / Antônio Pinto)

Criança não trabalha

Lápis, caderno, chiclete, peão,
Sol, bicicleta, skate, calção,
Esconderijo, avião, correria,
Tambor, gritaria, jardim, confusão.

Bola, pelúcia, merenda, crayon,
Banho de rio, banho de mar,
Pula sela, bombom.
Tanque de areia, gnomo, sereia,
Pirata, baleia, manteiga no pão.

Giz, merthiolate, band aid, sabão,
Tênis, cadarço, almofada, colchão,
Quebra-cabeça, boneca, peteca,
Botão, pega-pega, papel, papelão.

Criança não trabalha,
Criança dá trabalho.
Criança não trabalha.

1, 2, feijão com arroz.
3, 4, feijão no prato.
5, 6, tudo outra vez.

(Arnaldo Antunes / Paulo Tatit)

Paula Pina

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Sobre a nossa “cria”

1. Cria, criança, e por isso abordaremos temas dedicados à criança;
2. Cria que cria, e por isso teremos criações de, com, sobre e para crianças;
3. Cria, cria de alguém, criada por alguém, e por isso tentaremos apelar aos criadores de crias (pelos menos àqueles que gostam muito das suas);
4. Cria, criaturas, nossas, dos outros, criaturas perdidas, de algo ou de alguém, à procura, inventadas, à espera de existir, existindo;
5. Cria, criamoso, segundo um dicionário, “diz-se do tempo que é propício para criar”.

Na sua origem hebraica e bíblica, a palavra “cria” significava “formar, moldar”, remetendo obviamente para a criação divina. Mas também significava “organizar”, devolver a ordem ao caos. Em latim, “creare” é “criar, engendrar, procriar, produzir, dar à luz, escolher, nomear” (…), “causar”, dar existência, “fazer nascer” e fazer crescer…

Se quiséssemos definir este blogue, destaparíamos afetos ensonados. Como vemos o mundo do sério tamanho das nossas pupilas, diríamos que aqui nos disponibilizamos para pensar, para partilhar; para ver, para ouvir, para cheirar, para tocar, para saborear, para fazer; para nos surpreendermos, displicentemente incompletos e imperfeitos. Identificarmo-nos é descortinar o que de nós existe nos outros, é descortinarmo-nos em nós a partir dos outros. Sim, este será um sítio de insatisfação e desassossego, entre ternuras e curiosidades, para crianças, pais, famílias, educadores, professores, artistas, cientistas, heróis, vagabundos, ridículos, risíveis, apaixonados, visíveis e invisíveis. Com e sem pressas. Barulhentos ou silenciosos. Sim, talvez, ou não.

Dedicamos este blogue:
a todas as crias;
a todas as criações artísticas e outras, em todos os suportes;
a todas as criações que ficaram sem fôlego e em pecados irremediáveis se enredaram, perdendo-se para (quase) sempre;
a todas as criações que nos impressionam e aos seus criadores, grandes, pequenos, médios, conhecidos, desconhecidos, passados e presentes e futuros;
aos grilos e às cigarras;
a tudo o que mais nos for apetecendo pelo caminho.

Paula Pina

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